terça-feira, 12 de outubro de 2010

Lágrimas de Pedra, Risos de Inocência

Era uma casa antiga, com a pintura descascada e paredes rachadas.Na sala eu percebia o chão cru, e os sofás velhos cobertos com capas de sofá mostarda. Aquele tapete feito de cobertor e aquelas três crianças deitadas nele assistindo uma TV de 14 que ficava num armário , que não me parecia velho, mas empoeirado, com muitos porta retratos. Elas estavam rindo, assistindo Chaves, no dia das crianças, e percebi que seus olhos brilhavam e que mesmo em meio à tantos problemas, eles brincavam inocentemente como borboletas livres que não sabem o que se passa ao seu redor.
 Eu estava totalmente aérea refletindo sobre como eu sou egoísta, e como aquelas crianças estavam bem mesmo não tendo o que eu tenho. Mas, eu queria ajuda-las, não só financeiramente, mas emocionalmente. Pelo menos em algumas coisas eu puxei à minha mãe: sou muito caridosa, e sei reconhecer os meus defeitos. Mas de repente, aquela senhora ao meu lado, começa à lacrimejar, e naquela pele escura, oleosa e marcada pelo tempo vi gotas rolarem, lágrimas de pedra, um choro de luto  e lembranças de felicidades, que agora se tornaram dor. Dor de algo que à ferira, que sarará, mas que com certeza deixará cicatrizes. Pensei no sofrimento daquela mulher, tão velhinha contando sobre o amor do pai aos filhos, e como eles eram apegados ao pai.
  Comecei à pensar então na minha fraqueza, na minha incapacidade de encarar a perda de um pai,ou de um filho. Ela perdera seu filho e agora tinha ganhado mais três filhotes para cuidar. Ela os amava, mas isso não cobrira o vazio da partida de seu tão amado filho, que não era o único, mas como cada um deles, também era especial. 
 Pensei na vez que eu quis comprar umas dez blusas, mais quatro vestidos, e minha mãe disse pra escolher apenas seis blusas, ou ficaria sem os vestidos.Daí, eu começava a chorar, e à formar aquele biquinho que toda garota mimada sabe fazer. Nas vezes que eu quis viajar no feriado, mas ela não deixou, nas vezes que eu quis sair, mas estava de castigo. Como eu era hipócrita! Aquelas crianças, mesmo sem o meu conforto, e principalmente sem os seus pais, estavam felizes, achando graça de todas as palhaçadas do Chaves.
 Confesso que nessas horas, não, na verdade em todas as horas eu gostaria de ser como criança, e saber deixar meus problemas de lado, voltar à inocência e não mais errar por futilidades inúteis da vida. Esquecer o que ficou pra trás, e seguir vivendo, feliz, sem ressentimentos.
Agora, pela minha cabeça se passam essas cenas, e dos meus olhos surgem mais lágrimas de pedra, duras e tristes molhando o meu teclado, mais ao mesmo tempo, nos meus lábios surgem risos inocentes, como de uma criança, ao perceber o quanto Deus é bom pra mim, e quão boa vida ele me proporcionou, sabendo que ele está comigo à toda hora, porque eu o sinto em mim, da mesma forma que sinto a minha alma,agindo interiormente no meu consciente. 


ps: Há um tempo eu queria escrever algo baseado em um fato real. Mas esse texto não é baseado em um fato real, e sim, integralmente real. Refleti tanto, que até chorei. Eu não sei se você chorou, mas se não chorou é porque não tem as cenas que eu tenho gravadas em mente e testemunhadas. Foi uma semana difícil,mas a gente supera, sem esquecer a lição de vida que simples crianças órfãs do interior podem nos trazer.

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Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de entendê-lo, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo.

(Jostein Gaarder, Autor de "O Mundo de Sofia")